PRESÍDIO

Tenho séculos submersos no teu corpo.

Apalpo a trovoada despida no olhar,

há aves que voam rente ao tempo cruel

relampejando geadas inesperadas.

Há abismos insurrectos

a transbordar champanhe nocturno.

Bebo o sorriso afogado

em luminosos cálices de trevas,

escuto chicotes ungindo labaredas

nos canais sombrios da alma.

Tenho séculos submersos no teu corpo.

Não sei como selar a decepção

que arde nos sulcos do desespero.

Colocaste-me grades na boca,

é insuportável o sangue descalço

que dança nuvens na garganta.

Trouxeste nos gestos ogivas lancinantes

a transplantar milénios de abandono.

Desmorono-me em silêncio

perseguido pelo assédio atómico

que flutua no encanto.

Anoitece em mim,

surtos desolados

escavam neblina na eternidade,

tudo grita o fim.

Poema do livro "O áspero hálito do amanhã"

Alberto Pereira
Enviado por Alberto Pereira em 20/07/2009
Código do texto: T1709549
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