DESENCANTO

Cansei-me de ti.

Entristece-me perder o que nunca existiu,

mas não quero permanecer no que existe.

Dentro das muralhas da tua beleza

corre um rio de egoísmo

que já não consigo suportar.

Destruíste as margens da tolerância

e as águas começam já a inundar-me a dignidade.

Quem despejou esta arrogância na tua corrente?

És uma enxurrada violenta

que desagua no mar poluído da insensatez.

Tu, encanto interrompido pelo desnudar dos dias

que desenhou uma fé sombria nos meus sonhos

e incendiou de dor o horizonte.

Porque deixaste que o desejo nefasto do teu orgulho

secasse o rio de ilusão que me enchia a alma.

Procuro ainda na essência nocturna dos teus lábios,

um folêgo de sobrevivência que faça palpitar

o esplendor da tua imagem.

Caminho neste Outono embriagado de desilusão

e ouço a tua voz desfalecer no vento.

Sigo sedento pelo labirinto íntimo de êxtases perdidos

que vivem encalhados no fundo da minha memória.

Mergulho no brilho pálido da tua inocência

e nas águas anémicas de alegria

aguardo uma transfusão que faça circular a eternidade.

Poema do livro "O áspero hálito do amanhã"

Alberto Pereira
Enviado por Alberto Pereira em 20/07/2009
Código do texto: T1709545
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