A CIDADE DOS DEMÓNIOS SEM NOME

Vivem dentro de nós

Onde a luz não pode

Não consegue

Ou não deixamos penetrar

Vivem

Para nas boas horas

Tudo estragar

Todos temos uma terra comum

Onde mora o amor

E outra onde prolifera a tristeza

Há quem só viva nela

Sem qualquer tipo de pena

De si

Ou daqueles por si

Para lá arrastados

Gente que perdeu o sorriso

Que se sente algo não amado

Os anjos ali

São negros

E voam sobre as gentes

Como aves de rapina

Buscam as almas

Dos que deixaram de acreditar

E que vê nisso a sua sina

O sofrer é indizível

Pedra que acrescenta pedra

Da urbe impossível

Pelo que lá se vive

Pela ausência de crer

Nem Deus nem nada

A única crença ali é o sofrer

E por isso as palavras se esgotam

Num turbilhão de pesadelos

Quer-se substanciar o que a todos atormenta

É escusado

O inferno tem sinuosos caminhos

Fecundos na sua esterilidade sedenta

Os meus não possuem uma designação específica

Vivem na retaguarda que deixo por vezes desprevenida

Quando as coisas belas da vida estou a observar

Mas basta que me esqueça do sublime

Basta que não ame

Que não veja as estrelas

Que me esqueça de respirar

Que pela imensidão deixe de ter fome

Para a ela

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À

Cidade dos demónios sem nome

Poema protegido pelos Direitos do Autor