OS DONS DE CADA UM
OS DONS DE CADA UM
Creio num Deus de amor
Senhor de toda a gente
E de tudo que deveras sente,
A quem obedece as potestades
O tempo
E o vento.
Creio que no Grande Livro, predito,
Está o nome de cada coisa, escrito;
Que ao homem não sei por que razão,
Concedeu plena liberdade
E o fez senhor de seu próprio destino...
Que ao poeta chamou,
De filho amado
Ainda que por muitos, amaldiçoado;
E que de voz tonitruante
Sentenciou :
Fortuna não terás
Que tal não vale tanto,
Mas dar-te-ei, contudo,
Algo que não se obtém
Por canudo,
Dar-te-ei a arte
De burilar pensamentos,
Desvendar sentimentos
Nos recônditos da alma;
E também a maldição
De sentir dor, na dor,
Não só a dor que vem do coração,
Mas também as dores que invadem a alma.
E como se tudo isso não fosse tanto,
Haverás de transformar o pranto
Em algo belo, esteta:
Serás poeta.