Inolvidable

As lembranças,
aquelas que ficam
em nossa mente
definitivas,
são,
todas elas,
manifestações de amor.
Que pode ser proibido,
consentido,
bem vivido,
também pode ser
o que queríamos ter
esquecido,
virado a página
e partido para uma
outra vida,
longe de qualquer
possibilidade
de um reencontro.
Mas elas,
as lembranças,
nos acompanham
por toda uma existência,
assim,
sem clemência.

Às vezes até
acreditamos
que se foram de nós,
que já temos
o pensamento
livre para voar para
outras paragens
e sentir novas
emoções
sem sombras
do passado.

E de repente,
em forma de canção,
os acordes de um violão,
um pôr-do-sol,
um luar cor de prata,
uma chuva de verão,
aquele cheiro bom,
nos devolvem
as reminiscências
que chegam como cascata
e levam a nossa alma
pra lá,
para aquele recanto
já de um azul desbotado,
que acreditávamos
apagado
e que nunca deixou
de existir.

E pode ser diferente?
É possível o amor
do presente
apagar outros amores?
Não são as lembranças
um patrimônio
tão particular
que nos diferencia
um do outro?

Acho que o legado
do que se vive
(as histórias que escrevemos,
os afetos que tivemos
com suas peculiaridades),
é que nos humaniza
de verdade,
que amacia nossas mãos,
que nos torna
mais amantes,
que retira de nossos
corações a sequidão,
a frieza,
tão comuns àqueles
que sempre economizaram
os sentimentos,
que optaram pelo lamento
e não se entregaram
a um ou a vários amores.

Porque amar é sempre
gratificante,
mesmo que as nossas
lembranças
não sejam somente
cor-de-rosa.

Ah! porque acordar
com a sensação
de um beijo,
é uma real possibilidade
de recebê-lo
como um presente
matinal,
ou como uma doce
surpresa
numa tarde de chuva fina,
ou numa noite cálida
em que os casais
se buscam
em nome do amor.