QUEM AMA

Quem ama abdica de coisas

em nome daquelas que ainda não tem

e quem ama e ama e quer

e que à alma convém

Meu corpo pede teu espírito

como teu espírito meu corpo quis

Levanto, me ponho em viagem

vôo pra perto de ti

Não lembro do que eu te disse

mas eu nunca esqueci

Quem ama se cega de coisas

que pequenas se tornam

entre tantas coisas demais

confusas se dão as idéias

Não se age pela razão jamais

vem tristeza e se chora e implora

e nunca que faz...

o que é sensato,

humano ou rato; um amante, um amador

Quem ama abdica de coisas

em nome daquelas que ainda não tem

Recupera e luta ao que quer

e cansa depois de muito lutar

pois a força de um querer

nunca vai justificar

uma relação que se faz a dois...

Quem ama se cega das coisas

que ao espírito sempre vão

àquelas ditas perfeitas,

as negam que são...

E a conveniência acalma o espírito,

recebe estranhamente o que é simples

e deixa de viver por si

Torna-se espelho da alma

e a alma se vai...

Quem ama se cega de coisas

como dos próprios olhos...

Escolhe se mostrar por ângulos

que pensa que são os melhores

Quando a verdade diz que sua força

não depende de onde olhem...

Mas de como o recebam, o aceitem,

entendam, conheçam, por fim, que o amem!

Vê-se sozinho, isolado, mudado...

Não é mais aquele que acredita.

Imita o que sabe que atrai,

se desfaz do que sabe que é...

Se perde no fogo do espírito de uma mulher.

Troca de lado com a sorte,

forte a luta convém!

E a derrota é a mais idiota que outra além!

Vê-se sozinho, isolado, num canto...

Rima prato com tudo que existe

Triste engole o soluço,

um impulso o entrega à razão,

E a falta de crença é o motivo de qualquer perdão...

Vê-se tão sozinho, isolado...

Coitado, incapaz, submisso a ninguém

Seu poder, estabelecido pela ordem

de ser o dono de alguém

e estar sob suas ordens no que lhe é refém

Requer quem por ele que pense

não é gênio com genialidade que tem!

é pele, é pluma, é pó, é frasco que não se contém.