Sangue sem perdão

A chuva batia na vidraça

E a dentista,

A jornada começava

O verme pelo chão rastejava

A goteira pelo teto respingava

O cliente no consultório adentrava

Pele pálida,

Boca reta arroxeada

Diante dos seus olhos

Horror e repulsa, eram notórios

Na insensatez

Permitia dentes pálidos

Tártaro e cáries se alastravam

E a dentista

Superava a timidez

Num instante,

Um sonho, uma ilusão

Sonhava que beijava a boca em podridão

Abraçava-o, tocava-o com as mãos

Sentia êxtase, sentia paixão

Diante da ilusão cultivada

Viu o verme

Que se alinhava

No jaleco estendido

Gotas vermelhas escorridas

Acordou em sobressalto

Tomada de terror

Seu cliente observava

A paisagem exterior

Gotas de suor

Bater de dentes e tremor

A dentista nauseava

Aquele ser inferior

Não aceitou o trabalho

Recusou a profissão

Abriu as portas e correu

A rua foi a solução

O cliente a seguiu

Perseguiu e encontrou

Na esquina uma sombra

Atrás do carro se virou

Nervos e músculos

Fizeram o trabalho

Pelas mãos do ser lacaio

A pobre sucumbia

O verme rastejava

Alma vazia, alheio a situação,

As gotas que caiam

Eram sangue, sem perdão

Marciano James
Enviado por Marciano James em 17/07/2009
Reeditado em 25/01/2011
Código do texto: T1704935
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