Lamentos de um Músico
Que podes saber, poeta,
das músicas que eu escrevo?
Se teu branco papel apenas te é escrito
com frases do pensamento,
criadas e programadas com rimas e simetrias?
Se podes modificá-las quando, assim, o desejares,
usando goma e tinteiro,
imaginando que sentes a dor que deveras tens,
criando-te os personagens das histórias absurdas
que pela noite adentro te são razão de embriaguez.
Que podes saber, poeta,
destas músicas auriculares que brotam
de sentimentos profundos e enlouquecidos?
De tudo o que almeja e sonha meu coração machucado
pelo desamor e o tempo?
Se cada nota é tão só o que me sobra no peito,
que não consigo entregar.
Como podes comparar tuas palavras com rimas,
que às vezes desaprovas jogando-as no papel,
com as notas do meu canto cujas palavras ausentes
dizem em notas dolentes o mal do qual eu padeço?
Meu canto, por mais que o jogue, embolado, pela rua,
segue sua serenata, todas as noites e os dias,
tocando dentro de mim.
Tuas palavras escritas, que ao teu tinteiro ditas,
esqueces delas por dias, podes mudar teu querer,
mas estas notas que ensurdecem
e constantes me enlouquecem,
não posso modificá-las,
delas não posso esquecer.
Gabriela Faval
Parauapebas/07.03.99 - Parauapebas