TELA DE ARAME

TELA DE ARAME

Da janela do meu quarto

vendo a chuva deslizar

pelas cercas do quintal,

encantei-me com as gotas

que presas ao arame

desciam devagar

no zig-zag do traçado.

Fiquei a pensar que algumas pessoas,

como pingos mais intensos,

se projetam logo aos seus destinos,

enquanto outras batalham tanto,

indo e vindo pelas telas dos seus dias.

Reparei que as gotas em queda certeira

se perdem sem nitidez.

Como um véu, desaparecem

sem paisagem e nem vontade.

Já as outras, bem mais raras,

traçam luzes prateadas

nas cercas que antes pareciam apenas

marcar limites da liberdade.

Então fechei a janela descansada,

feliz por não ser dessa multidão tão apressada,

pois, ao invés de ir correndo ao fim dos rumos,

o que eu quero de verdade

é encantar-me com as dificuldades

que me prendem junto às grades

que, às vezes, margeiam a felicidade.

Carmem Teresa Elias
Enviado por Carmem Teresa Elias em 15/07/2009
Reeditado em 01/05/2012
Código do texto: T1701315
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