TELA DE ARAME
TELA DE ARAME
Da janela do meu quarto
vendo a chuva deslizar
pelas cercas do quintal,
encantei-me com as gotas
que presas ao arame
desciam devagar
no zig-zag do traçado.
Fiquei a pensar que algumas pessoas,
como pingos mais intensos,
se projetam logo aos seus destinos,
enquanto outras batalham tanto,
indo e vindo pelas telas dos seus dias.
Reparei que as gotas em queda certeira
se perdem sem nitidez.
Como um véu, desaparecem
sem paisagem e nem vontade.
Já as outras, bem mais raras,
traçam luzes prateadas
nas cercas que antes pareciam apenas
marcar limites da liberdade.
Então fechei a janela descansada,
feliz por não ser dessa multidão tão apressada,
pois, ao invés de ir correndo ao fim dos rumos,
o que eu quero de verdade
é encantar-me com as dificuldades
que me prendem junto às grades
que, às vezes, margeiam a felicidade.