BALADA DO AMOR CONSTANTE

Sim, eu temo o amor constante.

Ele é morno,

[nem frio nem quente]

sem fogo pra queimar nem gelo para esfriar

como um ausente que passa

acostumadamente.

Eu temo o amor constante

mais que a indiferença do afastamento

ou que a ardência das paixões.

O amor constante

[como já disse]

é morno,

parece que não passa,

e, se passa,

nem o tempo agüenta!...

Há, então,

uma pressa irresistível

de desassossegar os relógios,

de bocejar a cada gesto de carinho,

de mijar na hora exata em que pinta tesão.

Sim, eu temo o amor constante.

Ele é calado,

[nem mudo nem gritado]

sem nada mais ter o que fazer por nada

como um incômodo consentindo

silenciosamente.

Eu temo o amor constante

mais que a falta dos amores cometidos

em nome da arte ou do perdão.

O amor constante

[como já disse]

é mudo

parece que não fala

e, se fala,

fica indiferente a tudo...

Há, então,

o silêncio burocrático e gestos lentos,

mas se um berro querer irrompe a paz da sala

é sinal que chegada é a hora da mamada:

um bebe chora desesperado.