A JANELA E O TEMPO
Passa o que está além,
o que está aquém,
o que está em.
Passa o carro de gás,
o carro de lixo,
o carro de luxo.
Passa a manhã,
a janela fica.
Passa a moça sorridente,
passa o covarde, o valente,
o apressado e o sem pressa,
devagar, quase parando.
Passa o amor e o desamor
a borboleta amarela,
o operário de gorro.
Passa a tarde,
a janela fica.
Passa o pé que caminha,
o olho que vê
e o que não vê.
Passa a mão que trabalha,
a que ainda não trabalha,
a que não mais trabalha.
Passa o dia,
a janela fica.
Passa a trouxa na cabeça,
a sacola como pêndulo,
o vendedor disso e daquilo.
Passa a vida
e a janela fica.