Partida
Quem parte deixa seus laços
Como quem segue rumo ao mar aberto
Tendo plantado na aridez das areias
A brancura da alma feita silêncio,
O rubor do desejo feito ausência,
A transparência do sonho feito nada.
Na partida, sem rastros ou adeus,
Deixa-se a alma densa das sombras serenas,
A alvura do luar nas madrugadas,
O cansaço de amanhecer desperto,
O vazio abissal do peito deserto;
Busca-se a esperança feita estrada.
Quem parte leva consigo o colorido
De mil primaveras por florescer,
Um palpitar no peito feito criança,
O verbo impetuoso que a palavra cala,
O sentimento mudo que o discurso esquece
E um coração que arde na palma da mão.