Romance Chato

" a função da literatura é iluminar as entranhas da sociedade moribunda para outros a salvarem. Ela própria não salva." Érico Veríssimo, Solo de Clarineta (memorias)

escrevi um romance chato, desinteressante e denso: ilegível.

tão ilegível que nem tato poderia decifrar.

tão literal que explodiu como espinha feia na minha cara .

tão incorrigível que nem o hiato de sa-ú-de poderia

cura-la.

personagens tartamudas que

multiplicam-se em receptores parasitas

explorando uns aos outros pouco a pouco.

de tanto sugar deixaram a simbiose sanguinária seca

quase querendo pingar no que sobrou

das páginas de diários fabricados como texto.

nem mesmo um câncer incurável ofereciam

a quem poderia ler aquele lixo

disfarçado de literatura.

fiquei afectada( confesso!) com a indiferença

das pessoas fictícias que provocaram

um certo conhecimento de mim.

a forma se confundiu com o conteúdo,

com o autor em absoluto:

querendo participar da trama

com uma intimidade de quem

nunca se conheceu.

queria fazer saber nos olhos

de quem já sabia?

por Anita Mendes