Canção lírico-amorosa
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Quando te encontro, amor
nada mais espero
quero-te apenas assim
risonha ou triste
quando
se põe a cismar
na janela
sobre nossas pequenas
desventuras cotidianas.
Ou ainda, quando ruminas
rondando em círculos
o rígido mistério
do meu olhar silencioso...
Ah se eu dissesse
que estaria pensando em ti
me chamaria
mentiroso
Por isso me calo
e fico assim
misterioso e grave
como quem se
põe a pensar
em nada
quando está
pensando em ti.
É assim que te desejo amor
leve ave graciosa
inacessível ao toque.
Assim, qual onça pintada
que ataca sem hesitação
a presa enamorada!
E quando me arranhas
e quando me mordes
e quando me preparas
maliciosamente
o bote final
armando-se de
coxas e seios
e fogo e júbilos
e flores e gemidos
frementes, lascivos,
o meu corpo
indefeso de macho!
E te desejo mais ainda
em sua graça cotidiana
confusa no vestir-se
a mirar-se no espelho
naquela típica
atitude feminina
naquela necessária indecisão
entre dois vestidos
entre dois pares de sapatos.
E te quero sobretudo
ave de rapina
ligeira esperança
bailando alegre
e sempre solta
assim
sobre meu corpo
clandestino
que de te querer
jamais se cansa!
***