Momento áspero

Estava lá no lugar de sempre

exposto e ninguém dava conta.

Austero, imponente, severo...

Antigo instrumento de tortura de data distante.

Estava lá no lugar sacrário

marcado a ferro, acorrentado, em castigo.

Homens de dono, ultrajados, maltrapilhas...

Homens de sonhos abortados.

Os que vinham em navios negreiros,

os que iam apeiados em correntes...

Na labuta contemplavam o horizonte:

pés cansados,

mãos comprimidas,

rostos queimados e as lágrimas escorridas

divinizadas...

No ressoar da chitaba em pele...

Um grito chorado é calado,

ressuscitada a esperança tola

uma onda de comoção nascia

crescidamente nos dedos que alinha

o cabo da enxada que batia a terra seca, ensanguentada.

Uma lágrima uma gota de suor escorrido da testa refletida no arado esturricado:

calos

..........calados

bolhas

.....................bolhados

e no coração encarnado

um músculo pulsante responsável

pelo bombeamento do sangue mediante movimentos ritmados.

A dor latente de tanta gente

Em prece, na pressa de encontrar

o contar de uma história mudada...

Estava lá, caduco, no centro

o instrumento tortuoso de castigos sangrentos

a dor do lamento de nossa gente

como também estava lá em memória o lamúrio

do povo submisso a vontade de um outro povo bandido

Momento de tortura na história de nossa gente.