Solidão

Mergulhei fundo
nela: a solidão.

Virei o mundo em pura solidão.
Abracei o universo da solidão.

A imensidão à volta, a multidão lá fora,
Eu, e eu só, o meu ego e meu eco.

O osso, o desgosto, embaraço exposto,
Retalhos em desalinho, do ensaio da vida.

Inspiro, respiro, entrego-me à letargia.
Nas veias,palpita a essência da vida.

Não ser mais silente, não ser mais escravo,
Da busca, do atraso, do desfecho destino.

Horas vãs, fantasmas nus
Invadem o espaço, a mente e os sentidos.

Arpejos sons, esparsos timbres,
Vozes me chamam no outro lado da via.

Na retina olhares, imagens. Olhos de esguelha.
O olho do tempo, pela fresta sutil me espreita.

Me agarro, sem pressa, no derradeiro espaço,
Na travessia das horas, no avesso das sombras.

Dentro de mim, oscilante tristeza e riso,
Encaixa e fixa a evanescência de tudo.

Ser acolhida, ser secretamente amada,
Largar-se no limbro do frio desatino.

Lá fora, um novo frescor, e, aqui dentro,
Empiricamente imposto... o vazio.
Manter-se vivo! Alerta e desperto,
Entrar na lista dos afortunados da vida.

Uma ânsia se achega...
Uma luz me alucina...
Transcendo essa dor imensa,
Vagueio um pouco...adormeço.


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                                                 IZABELLA PAVESI
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                                                             foto: internet