Aposta
As meras palavras que me servia
No café da manhã tardio.
Não conseguiram convencer a imagem
Na rima do vocábulo.
E as santas ceias...
Sempre me deixavam com fome.
Pois não tinha nelas a esperança
De um dia encher a pança
Da miséria dos naufragados.
E eu, me sentia num estábulo.
Mas nos intervalos...
Depois de cuidar dos cavalos...
Falávamos de amor eterno.
Mesmo proveniente do inferno.
Assim caminharam meus dias...
E as noites geralmente paravam
Para ver a caravana passar
Por entre as sombras de nosferato.
Para servir mais um prato
No pranto que se serviu
Do servil trabalho do inocente.
E hoje, meio demente...
Ainda sinto o amor nas veias
Não que isso seja preciso.
Mas é o risco que se corre acordado
Pois não tenho nenhum legado
Ou quem sabe um dote qualquer.
Mesmo assim posso apostar
Na sorte que me convém
E se nesses dias a felicidade
Em minha porta vier bater...
Embarcarei nesse trem.
E vou velejar pelos mares do além.
E se esse for o preço
Pago dobrado pra ver!