Controverso

“Dói o desejo e esse prazer febril

....

e tudo o mais a minha volta é resto.”

(Lisieux Souza, “Polvo”)

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O coração exprime, convulsivo,

a dor, a forte angústia, a solidão.

Sofre, convulso, esta separação

que dilacera o peito e, mesmo altivo

em seu labor para manter-me vivo,

exprime, no seu mais sensato gesto,

a dor que sinto no meu peito infesto,

a dor que me consome, amarga, vil.

Dói o desejo, este prazer febril,

e tudo o mais a minha volta é resto.

É resto a sensação de plenitude,

essa indizível força que me anima,

é resto essa lembrança que lastima

a perda desse amor, mas não me ilude

a falsa sensação do que já pude

e já não posso mais, o amor servil.

Dói o desejo, este prazer febril,

e tudo o mais a minha volta é resto,

é ilusório, é falso, é indigesto.

Eu vivo, mesmo assim, a mais de mil.