Sarcasmo
O poeta reclinou para dentro de si
Extraindo toda a dor que lhe devorava
Amou e odiou navegando aos extremos
Cada momento com tamanha intensidade
Recluso foram todos os seus dias
Tristeza suave num doce entardecer
Descreveu a sua dor sufocada em aversão
Veemente reflexo do ser esculpido no papel
Firmou seus passos em fortes linhas
Observou pela veneziana suas limitações
Ao céu voltou várias vezes o seu semblante
A morte, calada, espreitava a sua incapacidade
Capturado pela incerteza dos seus sentimentos
Pela dor que lhe abafava durante o sono
Percebeu que podia escrever e entregar-se
Suas idéias não poderiam ser aprisionadas
Tornou-se escrava das suas intenções
Brincando com as palavras e a essência do ser
Jogando três-marias com a verdade que não envelhece
Ela em troca lhe desvela a chave da prisão.