ASSIM CAMINHA A MADRUGADA
Antes que a Última balada
assuma o silêncio
Antes que as pernas avuadas
discansem no acento
antes que mãos entrelaçadas
sem lancem ao leito
antes que a boca amendoada
sucumba ao beijo
há de surgir, nos olhos
o brilho estrangeiro
e proseguir, batuque
compasso ligeiro
pra ser feliz, em corpo alheio
pra se sentir, sentido em devaneio
Antes que a luz açucarada
de prata braseiro
deita madeichas desalinhadas
em um travesseiro
Antes que a noite atordoada
lambuse o traseiro
de um dia sem premissas
preguiça de ordeiro
há de tentar saciar
o insaciavel
tem de esperar
que traga o ardor descartavel
da vida ligeira
vida rameira
vida sem beira
de uma aventura fugaz
em noite rasteira
Antes que o relogio bata
doze badaladas
Antes que a fome encarnada
sacie a luxuria
antes que seja depois
depois será tarde demais
antes de tudo isso
do gozo do viço
da pele na pele
do corpo no corpo
de copos vazios
de ubres vadios
antes de amanhecer
desejo desvanescer
na mão do trabalho
no beijo hortelã
de um bom dia seco
olhar em horizonte
há de conter
de novo o incontido
pra retornar
a monotonia
de um dia no dia
de um homem qualquer
nesta cidade sem rosto
sem gosto
Antes que eu perca
a esperança esperada
antes que eu pereça
de novo na lua molhada
antes que não esqueça
das lembranças açucaradas
de um beijo gentil
licor arredio
de beijo vadio
na nova noite encantada