MADRUGADAS
As madrugadas...
Perfumes antigos de carícias antigas,
Ladrões do sono...
O ar falta porque a angústia sufoca,
Porque a solidão perturba o sossego,
Nutre a loucura,
Cristaliza a tristeza...
O pensamento voa sem rumo (e sem lógica).
Quem sou nessas madrugadas sós,
Em que o silêncio é mais silêncio
E nunca acorda?
Ah, estas madrugadas...
Quando os sonhos se lançam às ruas
Qual tropel de cavalos alados, em vigília...
Correm, criam magia, ilusão,
Libertam os desejos,
Céleres, desembestados!
Sonhos confusos mas esperançosos
De que vinguem ao nascer do dia.
Anseiam nascer flores no jardim.
Ah, meu inventário de esperanças...
Que escrevo nessas madrugadas
Densas e esquizofrênicas,
Fosforescentes de neblina
Mas belas! Voluptuosamente belas.
"Morrer é apenas não ser visto. Morrer é a curva da estrada. " (F. Pessoa)
foto: Rui Pais