Incisão e Sutura

De seu interior italiano,

Com paredes sujas,

E cortinas adamascadas podres,

Euriante observa o dia que acaba,

E a vida que se esvai pelos cantos.

Seu braço, um mapa de agulhas.

E se abstendo da realidade,

mastiga lâminas e cacos de vidro,

Arraranha o peito anoréxico,

Com suas unhas enfraquecidas.

Fora, a realidade.

A decadência do veneno que corre

pelas artérias ressecadas,

E um quarteto de Beethoven,

Que torna o ar irrespirável.

Sente seu corpo amarrado,

e o chicote a marcar-lhe as costas.

Em breve, seu corpo apodrecido,

Será alimento para as larvas.

E sua alma fraca, alimento para cães.

Mastins.

Pelas frestas há risos abafados,

de almas feito répteis,

Aguardando a morte pela cocaína.

Aqui não há perdão.

A vida não perdoa os fracos.

Euriante arranca os cabelos para aliviar,

Uma dor maior que se escondeu na sua alma.

Há cortes profundos em sua pernas,

de tanto se atirar contra a parede.

Em breve será o fim.

E o cheiro horrendo abarcará,

O espaço entre o aqui e o inferno.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 02/06/2006
Código do texto: T167895