TRILOGIA PESSOANA III - Álvaro de Campos Revisited
Quem colou os cacos deste vaso?
Quem o encheu de flores? Será que não se Indispôs
com as sobras, os vazios? Agora esta cola o prende
com tal precariedade
que um mero empurrão o esfacelaria novamente,
em pedaços ainda menores,
e com mais louça, muito mais louça, até se tornar inevitável
que Existam vários vasos com os cacos de um.
Três, para ser exato. Um enorme,
selvagem, primitivo. Outro ordenado e imponente,
como vaso etrusco, ilustrado com deuses vingativos.
O último, bem pequeno, com forma e Sofrimento semelhantes
ao vaso original.
Ah, quem pode dizer, agora que foi tudo refeito, reformado, regurgitado,
qual é a face verdadeira desses vasos?
Seria a exterior, pintada e adornada,
cada uma à sua maneira?
Ou a face voltada para dentro, a face escura,
cujas teias de aranha só podemos Contemplar
se analizarmos os vasos com muito afinco,
e que o vaso, ele mesmo, nunca vê?