TRILOGIA PESSOANA I - Reencarnação
Uma cigana me disse uma vez
que eu era Alberto Caeiro
reencarnado.
"Mas ele é um heterônimo de Fernando Pessoa", repliquei.
"Ele nunca existiu".
A cigana, me perscrutando com suas bolas de cristal
(as de verdade, que ela guarda atrás dos óculos)
me respondeu: E você,
existe?
Não sei.
Sei apenas que há frias noites de uma chuva oblíqua
em que, mirando uma parede qualquer,
faço apenas isto. Existir,
excessivamente,
eu e a parede. Todo o resto,
Contemplar, Sofrer, me Indispôr,
perde sua relevância.
Uma cigana ne disse uma vez
que eu era Alberto Caeiro reencarnado.
Em noites como essa eu não acredito.