Porão da Vida
As tiras róseas caiam
como pêndulos mágicos
sob seu rosto.
Mechas desfainadas
lhe davam um brilho purpúreo,
que se visavam entre os olhos
esverdeados, como se fosse uma
a dualidade entre a fantasia
e uma realidade que jamais
viria a alcançar.
Espaço ralo de terra
que nos separavam
à luz de um poente desbravado,
como vulcões sem nome
e sem dono.
O giro do pombo, na córdea
do espaço, o falante arquejar
de pássaros no ar, trazia
uma plenitude que, no interior,
jamais viria a possuir.
Se nisso passou num
minuto - de poderosos
dez anos -,
ficando como arder
de preventivo e angústia,
o resto da vida.
Naquele tempo
éramos como dois
pássaros instigados
por rodear de mãos dadas,
por descobrir um mundo
que só a nós pertencia.
De qualquer maneira,éramos
maqueteados por amor,
coloridos por mágicos azuis,
com dobras de carmim afeitados.
Outro dia, mespasso
atravessei a rua de solavancos,
e, vi, radiante do outro lado,
meu sol de ontem,
meu outono de imensos espaços.
Tal havia envelhecido,
tal havia perdido o acórdão das
mesclas de juventude.
Mas guardava ainda,
entre os manjares de olhos,
a sobrevida que jamais eu alcancei,
e por mal de deuses entristecidos,
me cativaram prá sempre no soslaio
dos porões dos homens.
Ela passou,
eu passei,
rasgamos o tempo de vida.
Cada um para um oeste,
cada um esperando
nosso cada um,
que o tempo, sábio,
havia de esquecer.