O REFLEXO DO ESPELHO PENDURADO
O REFLEXO DO ESPELHO PENDURADO
UM ESPELHO PENDURADO...
MAIS UM...OUTRO MAIS.
TODOS PENDURADOS
À ESPERA DE ROSTOS,
À ESPERA DE FACES,
À ESPERA DE VIDAS.
BALANÇAM-SE AO TOQUE
DE MAÕS QUE OS BUSCAM,
FRENETICAMENTE,
COMPULSIVAMENTE.
O DESFILE INICIA:
É A DONZELA DE TRANÇA QUE MIRA,
É A VELHA SECA QUE MIRA,
O HOMEM DE BARBA, MIRA,
A MUDINHA DO AMENDOIM, MIRA,
A PROSTITUTA GORDA, SE MIRA.
O VENDEDOR DE PICOLÉ, SE MIRA,
A PUXADORA DE CIRANDA, SE MIRA.
INDIFERENTE A CADA OLHAR,
O ESPELHO REFLETE, E, DEVOLVE.
O ORGULHO DA DONZELA,
A INDIFERENÇA DO HOMEM DE BARBA,
TRISTEZA DA MUDINHA DO AMENDOIM,
SARCASMO DA PROSTITUTA GORDA,
ALEGRIA DO VENDEDOR DE PICOLÉS,
SATISFAÇÃO DA PUXADORA DE CIRANDA.
MESMO ESPELHO, MUITAS VIDAS,
MESMO OLHAR, MUITOS OLHARES.
APRISIONADOS, EMOLDURADOS,
NA LÂMINA FRIA DE UM ESPELHO.