POETA TEM MANIA DE CULTIVAR PALAVRAS ESTRANHAS
NALDOVELHO

Sempre cultivei palavras poemas,
na certeza de um dia colher significados,
na verdade um jardim inteiro de versos,
tudo florescendo no seu tempo,
e dezenas de colibris em alvoroço
numa benção ao meu desejo e esforço.

Já faz muito tempo, floresci primavera setembro,
azaléias, lírios, jasmins, orquídeas,
perfumes, cores, lirismos, ardores,
manhãs iluminadas, tardes abençoadas,
sentimentos, entregas, esfregas,
e por muito tempo contaminado
por muita e muita paixão.

Depois, floresci dezembro,
dias de sol exibido e ardido,
manhãs contundentes, tardes tão quentes,
às vezes chuva forte, ventania, trovoada,
em outras, mulher bonita, pele morena,
algumas com teias, outras com venenos,
algumas raras com o canto das sereias,
em noites tão claras, madrugadas inteiras,
só pelo prazer de viver.

Assim num repente floresci outono,
de um tempo de consolidar descobertas,
resgatar sonhos, exorcizar fantasmas...
Poeta tem mania de cultivar palavras estranhas,
quase sempre resultam em belos versos
que falam de tudo o que se viveu,
e que apesar da dor sentida, valeu!
Lembrança, saudade, nostalgia,
poesia que a vida escreveu.

Agora, floresço na palavra inverno,
aquela que fala dos significados,
que mostra o sentido dos versos,
o rumo dos ventos que sopram,
os segredos das águas que eu choro,
o inventário das perdas e ganhos,
poemas colhidos sem pressa,
pois já não adianta correr pra viver;
e ainda vejo colibris em meus sonhos,
ainda gosto de cultivar palavras poemas
e ainda há muito que aprender.
NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 29/06/2009
Reeditado em 02/07/2009
Código do texto: T1674098
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