Canção para Moças de fino trato

Este poema não é para ser lido.

Tanto que nem tem palavras.

É feito de ilusões.

Este poema é para ser comido.

Engolido com vigor.

Mastigado como que carne.

Carne semi-crua, sangrenta.

E depois de engolido,

Deve ser digerido.

Produzir indigestão.

Seus extratos devem correr no sangue.

Envenenando-o.

Entoxicando-o.

Chegar ao cérebro e

Produzir alucinações.

E quando cessar seu efeito,

produzir a síndrome da abstinência.

Aí si,

deve ser vomitado.

Vomitado sobre o mundo.

Porque palavras também alimentam.

Mas produzem mal-estar e náuseas.

E depois de destruído o estômago e a mente,

o corpo transformado,

deve ser o portador da boa-nova.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 01/06/2006
Reeditado em 01/06/2006
Código do texto: T167315