Transcendência
Gosto de igrejas
silenciosas,
antes da missa
ou depois
que todos se vão,
mas também aprecio
o ritual religioso,
o canto gregoriano,
a música celestial
que preenche o vazio
do meu coração.
Tenho essa mística
tatuada em mim,
gosto dos anjos
barrocos,
até dos santos
do pau oco
que serviram
à devoção
e ao profano,
aliás,
como tudo que é humano,
também aprecio
essa ambivalência.
Essa religiosidade
laica,
que segue a emoção
muito mais que a razão,
encontra guarida em
meu ser.
E o som dos sinos
nas capelas
de presépio,
que enfeitam
os lugarejos distantes,
ecoam entre os montes
e ressoam
nas minhas lembranças.
As rezas,
os cânticos,
as procissões,
os sermões muitas vezes
equivocados,
me levam os pecados
pra bem longe,
e me permitem pecar
outra vez.
Nessa conexão
com o divino,
a cada hino
escutado,
refaço o meu caminho
num resgate necessário
do que deixei olvidado,
em nome de um desejo
de viver
outros saberes.
Agora
a hora da ave-maria
me emociona
mais ainda,
por saber que não
me perdi
nas várias trilhas
percorridas.
Todo o meu relicário
de preces
contém pedidos
de toda ordem
e muitos
agradecimentos também.
E nessa sintonia
com Deus,
tenho de volta a paz
fugidia,
que se vai de mim
de vez em quando,
mas retorna
a cada amém
no fim do dia.