As portas
Às vezes, acho que não sou
desse mundo.
Desligo-me sem saber onde estou,
acabo taciturno.
Vejo através das mentes,
ficando desolado.
Todos estão plangentes
e desacreditados.
Abri portas em mim,
sem procurar a chave. Parece o fim,
embora nunca acabe.
Pulei as barreiras,
mergulhando no infinito. Vi grandes teias
urdidas como um labirinto.
Entrei nesse logogrifo
para chegar a uma resposta.
Queria saber o que aconteceu comigo,
caminhando pela parede transposta.
Encontrei novas portas
trancadas por um selo.
Passei por elas com o maior desvelo.
A primeira era a ambição.
Tranquei-a com firmeza,
sem hesitação.
A segunda era a vaidade.
Sua grandeza me amedrontava,
porque ela também produzia perversidade.
A terceira era a mentira.
Dei-lhe um soco,
por causa de um ímpeto de ira.
A última decidi abrir.
Olhei para dentro
e quase sofrendo
por ter que admitir...
Que era inevitável
recuar. Nesse mundo não se pode ser amável
e, tampouco, se apaixonar.
A porta da paixão
estava lá.
Não quis ferir o meu coração,
fui embora...