Era uma vez
Lílian Maial
 

 
 
Era uma vez um lá longe,
certo, firme e seguro,
como as montanhas e rochas.
E era tão desenhado,

tão concreto,
que nem o tempo poderia dissolvê-lo.
Tinha um quê de sempre,
um tanto de encanto,
e um doce vôo de pássaro novo.
Planava no olhar,

feito pluma de se admirar.

Era uma vez um tão perto constante,

que se tornou longe,
areia por entre os dedos da manhã.
Um sem querer de silêncios,

um descuidar de afagos,
um sonegar de sorrisos,
que fez um vão – ôco ninho -
de engolir as pedras do caminho.

 
Era uma vez a promessa,
a verdade e a certeza,
que se afogaram
em mar de treva,
mesquinha
vingança e cegueira.
E veio a lacuna,

a sombra,
a dúvida,

a mentira.
 
Era uma vez um amor
tão certo, firme e seguro,
tão imenso e concreto,
que se fincou na lembrança,
cordilheira de versos,
de vazios e lamentos,
que por si só respira

e transpira a saudade soprada no vento
espalhando o perfume
que ainda exala lá longe...
 
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