Das Falas Acesas – 1983
Estava tentando deixar de pensar. Parado,
olhando para um lugar qualquer, com
a cabeça em vácuo, simplesmente, tentando
parar de pensar. Parece vazio, mas não é,
parece profundo, isso o é. Mas é cheio,
de pequenas luzes cintilantes, barulhentas,
que vão de encontro, à lugar nenhum. É
divertido, uma inércia total, de corpo e
mente. Tudo parado, estático, e essas luzes
correndo, de um lado para o outro. Daí, um
frio na espinha, por todos os lados. Mas
como, se estou parado, inerte? É a vida,
essas luzes me mostram, apesar da minha
inércia, a vida, uma continuidade de
uma existência, que mesmo parado,
tentando não pensar, me é jogado na
cara, e aí, me dá um alívio, pois volto a
pensar, a fluir, com o sangue correndo
em minhas veias, pois parar e deixar de
pensar, são uma fuga. Demonstração
de minha própria insegurança, o meu
medo de viver, sendo que essa nossa
vida, pequena, truncada, calejada vida,
é o sangue de uma existência, mesmo
que dolorido e derramado.
Vida, minha vida, como eu te quero bem.
Peixão89