NO BECO DAS GARRAFAS

Canta o coração neste beco de esfinges.

O bar é todo música entre garrafas

pousados bebuns de gargalos vazios,

trastes violoncelíricos,

balcão de olhos matemáticos.

Aqui estou, entediado

– um verme na maçã da Poesia,

estrangeiro de pijama grudado no alter ego.

Revive-se a taberna da Média Idade.

O bobo-da-corte entontece,

arrota a emoção. E rabisca.

Dentro dele outro clown bebe

o espantalho do tempo.

Nesta ronda dos inquietos reluz

o canto gutural dos quase-poemas.

Confidencia-se o feminino.

À beira do poço, subjetiva-se

o bom-bocado: amores de todos gêneros.

A vida é um trem de barro,

sobe os degraus do Beco

e joga todos os ases.

– Do livro BULA DE REMÉDIO. Porto Alegre: Caravela, 2011, p. 75.

http://www.recantodasletras.com.br/poesias/1657166