ADEUS, VELHA CASA (Dedicado à advogada Nynpha Machado)

Deixo contigo sonhos d’infância

E o espírito adolescente

Nunca mais tu serás a mesma

Nem ouvirás minha voz

Nem colherás meu pranto em teu orvalho

Não trocaremos confidências

Meus segredos guardarás

O telhado desfeito suspira liberdade

Adeus, velha casa

Irás comigo aonde eu for

Caminharemos de mãos dadas

Pelos jardins do eterno mistério

Não temos mais pecados

Cessaram angústia e dor

Estamos livres do inferno

Levarei comigo teus ares de palacete

Teu orgulho emparedado

Cada um de seus tijolos no chão arremessado

É pétala de miosótis desfolhado

Adeus, portas e janelas

Adeus feridas do reboco

Fujam os pássaros

Busquem outros alvoreceres

Adeus, velha mangueira

Não te ouvirei, se acaso gemeres

Não conversaremos eu e tuas folhas

Calará a brisa sobre tua copa

De incansável verde

A renda do bambu descendo pelo muro

As folhas da pitangueira brilham lágrimas no escuro

O limo narra histórias invernais

Anjos em ciranda na sala de visitas

Chora chuva

Não voltarei

Nunca mais

Adeus, velha casa

Rainha exposta em classificados de jornais

Todos agora te olham, te invadem

Tu és minha, casa amiga do passado

Ainda carinhoso me abriga teu corpo longo e cansado

Eu sou você, alma e imagem

Ouves meu coração

Oras comigo

Conheço tua linguagem

Adeus, velha casa

As bicas em pranto desesperadas

Me convidam a ficar

Aqui, no pátio, pensando,

Pensando

E o pensamento virando mar

Passa correndo a menina

Segue um barco de papel

Adeus! Adeus!