O VOO DO COLIBRI
Faltava um triz de segundo
Para o encontro fatal,
Toda ilusão deste mundo
Num pássaro de metal.
Zeus mirou enciumado,
Convocou as tempestades.
Foi raio pra todo lado,
Acorreram potestades.
O colibri inocente
Assoviou sem cessar
Canto lúgubre, dolente,
Triste canção de ninar.
As duas asas cortadas
Ruflando pelo espaço,
Chorando desesperadas
Lágrimas feitas de aço.
Poltronas sem majestade
Em cacos são transformadas.
As portas pela metade,
Janelas estraçalhadas.
Humanos corpos voando
Em louco balão de brasas
Como? Onde? Por quê? Quando?
Jamais verão suas casas.
Que belo mar de azul!
Estrelas na vastidão
Aflitas de norte a sul
Ao final assistirão.
A morte n’água banha
Velho corpo debochado
Sem um pingo de vergonha
Da procissão do afogado.
Pranto de dor molha o mundo,
Ecoam no ar estribilhos
Em cada alma cala fundo
O pesar por tantos filhos.