TEMPO ESGOTADO



A alma vaga pelos labirintos dos dias
Tentando desenredar-se das teias do fado,
Aranha que tece o presente com fios do passado.

Cirros-estratos turvam a paisagem futura.
Os fios vindouros não se divisam.
Nem as arapucas...
E a vida pode acabar a qualquer tempo.

A porcelana que trinca,
O leite que se derrama na fervura,
A água que excede a borda do copo...

Tempo esgotado.

Vida que perde o sopro
E que a si mesmo sopra
E vira pó...

Há os que se derrotam, 
Os que escapam de sua sombra,
Os que hesitam,
Os que fiam suas mesmices... 
Nestes, a esperança é madrasta,
Fere, malaxa.

Renunciar (-se),
Largar vontades e planos e sonhos,
Despir a camuflagem de luta,
Vestir a negra mortalha...
Largar a vida
E bater em retirada... 
Um ser fugidio num episódio fugaz.

Sento-me e escuto-me (-te),
Pergunto-me (-te).
E afinal,
Para que serve uma adaga fora do peito?

Tempo esgotado.





a indagação"Para que serve uma adaga fora do peito?"  está num conto de Lygia Fagundes Telles, "Os objetos".
 
KATHLEEN LESSA
Enviado por KATHLEEN LESSA em 19/06/2009
Reeditado em 30/10/2013
Código do texto: T1656181
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