Meu amor tsunami
Dezembro levantou âncoras – devastador
2004 trouxe tsunamis para se despedir
2005 inaugura-se regurgitando corpos
Traz multidões às praias – inunda valas comuns
Dezembro também devorou e devolve
ao sacrifício diário
os corpos de nosso amor jurado imortal:
Água vira veneno
mar provedor – maremoto
terra firme – terremoto
Meu Deus, que diabos!
Meu amor tsunami
também é bomba atômica
Quando explode e abre os braços
afastando-se de meu peito terno,
varre fronteiras e civilizações
Igual às ondas tsunamis ao se abrirem
és oceano que se joga de corpo inteiro
sobre os corpos frágeis da costa asiática
II
E, por seres bomba e tsunami, meu amor,
ao recolheres teus braços
em furioso repuxo e abraço medonho
redobras a devastação sobre a Tailândia
Sobre a Indonésia Sri Lanka Índia Malásia África
Sobre mim
Aqui aniquilas minha geografia debilitada
por teu adeus nos escombros onde habito
Luto e pânico dizimam nove de cada dez edifícios
Uma a uma ilhas desaparecem ou se partem ao meio
Com tua domesticação de ondas assassinas
amortalhas em fome cinco milhões de sobreviventes
Chega a dar vergonha
assemelhar a perda de teu amor
às dores que inundam países, paraísos
A besta líquida abocanha, rumina e devora
250 mil florações humanas
Então avalia a catástrofe de tua partida
Então avalia a catástrofe de tua partida
e o afogamento de minha vida tua
Para os sobreviventes do pavor
envio roupas, cestas básicas, água potável
Mas sacrificar o que mais a ti
se de meu amor fazes cinzas e insobrevivência?
Sobrevivo a tua perda
mas morro todas as vidas asiáticas
meu amor hiroxima, meu amor tsunami