Terça-feira, Junho 16, 2009

A PALAVRA UM DIA FUGIU


Ilustração Gorbachev.
A PALAVRA , UM DIA FUGIU
Carmen L. Fossari

Um dia a palavra me fugiu
Como fugiu se ela é abstrata?
Fosse um pequeno bichano
O angorá belo que pensa ser um tigre?
Ou um bebe de mimos, encostado no sofá,
Seria o angorá o felino
a saltar em garras e pelos fugidio
Que nunca o tive em casa,
Fosse a palavra um pássaro em gaiola trinando
entre um alpiste e outro
Que também em gaiolas ,
sendo muitos, nunca os tive
Fosse na coleira um pet dog
Onde deixaria uma parte de meu amor
Como tantas pessoas assim o fazem
Como um filho outro
Que quase a falar
Chora e late quando a coleira
Lhe indica ser apenas uma presa
Em delicatessen ao dispor donatário!
Fosse a palavra algo que eu prendesse
Um pensamento estanque , imutável
Que nunca os tive.
Fosse o que a palavra para que me fugisse
Fosse quem sabe uma parcela d.eu
Vítima de um caudaloso rio
Que navegamos,
A um destino finito,
Enquanto saboreamos navegar
Entre ilhas, mergulhos e oásis.
Quem são as palavras concretas
Que me fugiram ?
E me impediram ao poema
reconstruir outro poema?
Abstratas, coloridas, multiformes,
De perfumes, de vazios, de encontros, do amor
Da solidão, das tentativas , das reconstruções
Das amorosidades , ai fugidias palavras
Uma apenas me retorna, enquanto as
Outras dançam nesta chuva da ilha
Fina e fria
Outras repousam no dicionário do Aurélio
Apenas uma abstrai e se concretiza presente
Fugidia , retorna,
sorrindo me olha,
A desdenho de toda,
mas retornando
na fugidia lembrança, ela a palavra que volta
Volteia na concretude a textura de sua construção
De ser a palavra liberta , a mesma que me faz tão refém:
Saudades.


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