O Poder do Amor

Minha vizinha gorda

Gritou: - É o fim!

Resolvi ouvir...

Fiz minha mala com roupas dobradas e desodorante

Alguns poemas escritos em guardanapos

Meu porta-treco... Um calção de banho

Subi na bicicleta

- Tchau poeta. Segui

No caminho

O filme tornou-se preto e branco

O céu ficou castanho

A mata ficou cinza

Somente teus olhos continuaram azuis...

Nessas cores eram invisíveis os amores...

Amigos... Família...

Tudo ficou invisível...

No caminho

Havia muito perigo

Assassinos... Bandidos...

Estupradores... Poetas amadores

Haviam muitos perigos...

No caminho vesti meu calção de banho

Subi no trampolim

Dei um salto ornamental

Espatifei no chão...

O rio secou

E o mar também

Até as lágrimas secaram...

Minha vizinha só podia ser profeta

Era mesmo o fim...

Pensei:

- Minha bicicleta não tem asas

Não adianta pedalar

E andar em circulo...

Com o tempo

Até as palavras e os versos

Foram devastados...

Mas antes que acabasse por completo

Ensandecido gritei na rua:

- Eu te amo pro padeiro

- Eu te amo Pra beata...

Pra Renata... pro açougueiro...

Pra flores e arvoredos...

E pra todo mundo...

Subitamente

As flores avermelharam...

A mata se esverdeou... O céu azulejou...

O rio e o mar transbordaram...

Até meus olhos encheram-se de água...

O mundo apenas renasceu feito uma Fênix...

Guilherme Sodré
Enviado por Guilherme Sodré em 15/06/2009
Reeditado em 16/06/2009
Código do texto: T1650787