O Poder do Amor
Minha vizinha gorda
Gritou: - É o fim!
Resolvi ouvir...
Fiz minha mala com roupas dobradas e desodorante
Alguns poemas escritos em guardanapos
Meu porta-treco... Um calção de banho
Subi na bicicleta
- Tchau poeta. Segui
No caminho
O filme tornou-se preto e branco
O céu ficou castanho
A mata ficou cinza
Somente teus olhos continuaram azuis...
Nessas cores eram invisíveis os amores...
Amigos... Família...
Tudo ficou invisível...
No caminho
Havia muito perigo
Assassinos... Bandidos...
Estupradores... Poetas amadores
Haviam muitos perigos...
No caminho vesti meu calção de banho
Subi no trampolim
Dei um salto ornamental
Espatifei no chão...
O rio secou
E o mar também
Até as lágrimas secaram...
Minha vizinha só podia ser profeta
Era mesmo o fim...
Pensei:
- Minha bicicleta não tem asas
Não adianta pedalar
E andar em circulo...
Com o tempo
Até as palavras e os versos
Foram devastados...
Mas antes que acabasse por completo
Ensandecido gritei na rua:
- Eu te amo pro padeiro
- Eu te amo Pra beata...
Pra Renata... pro açougueiro...
Pra flores e arvoredos...
E pra todo mundo...
Subitamente
As flores avermelharam...
A mata se esverdeou... O céu azulejou...
O rio e o mar transbordaram...
Até meus olhos encheram-se de água...
O mundo apenas renasceu feito uma Fênix...