LUA NUBLADA
NALDOVELHO
Lua nublada?
Vez em quando aparece,
quase sempre se esconde.
Madrugada de outono,
onde o silêncio enlouquece
e a cidade não dá conta
de como é feio o abandono.
Ruas desertas, esquinas vazias,
portas e janelas fechadas
e alguns poucos carros
passam e não param.
Ainda existe o orvalho,
tipo lágrima discreta.
Ainda existe a espera,
coisa estranha e inquieta.
Lua nublada?
Já foi cheia e exibida
dentro do meu quarto,
já dançou noites de insônia,
bebeu todo o meu absinto,
fez juras de amor eterno
e depois minguou.
Hoje é só nublada:
vez em quanto aparece,
quase sempre se esconde
QUIETUDE DA ALMA
NALDOVELHO
Passarinhos passeiam pela sala
e um gato sonolento espiona.
conversa travada em silêncio,
cumplicidade premeditada com o tempo.
O cheiro de café coado bem forte,
pão francês, queijo branco, angu de corte,
biscoito de nata, goiabada cascão,
manteiga sem ranço, tarde macia de agosto
e uma certa brisa quente no ar.
Que tal encostar, assim, mais um pouco?
Embaraçar de vez nossas pernas?
Suas mãos mal intencionadas provocam...
O meu corpo aquecido responde.
Espreguiçadeira repousa na varanda,
samambaia chorona ao vento.
Quietude precisa da alma
que entardece aconchegada em seu colo.
MULHER ENLUARADA
NALDOVELHO
Procura-se uma mulher sardenta,
mais ou menos um metro e sessenta,
cabelos claros, desgrenhados,
olhos verdes e abusados.
Procura-se uma mulher sedenta,
mais sedutora do que aparenta,
lábios grossos e encharcados,
doce veneno disfarçado.
Procura-se uma mulher derradeira,
com garras afiadas, guerreira,
acostumada a tecer feitiços
e não há como acabar com isto!
Procura-se uma mulher enluarada,
pele branca e orvalhada,
mãos acostumadas à ternura,
capazes de levar um homem a loucura.
Diz que é a musa dos meus sonhos
e dos meus versos mais tristonhos.
Quem souber não se arrisque, juízo!
Seu ataque é rápido e preciso...
Nem queiram saber do que ela é capaz!
COISAS DA VIDA!
NALDOVELHO
Limpo as feridas,
esterilizo a pinça,
retiro os espinhos.
Todo o cuidado é pouco,
feridas mal tratadas
costumam infeccionar.
Um antiinflamatório ia bem!
Agora é só seguir adiante,
cicatrizes permanecerão.
Na mudança de tempo
vão incomodar,
só pra lembrar
que a pele ainda é fina.
No trato com as rosas,
ainda que lindas,
todo o cuidado é pouco...
Coisas da vida!
NALDOVELHO
Lua nublada?
Vez em quando aparece,
quase sempre se esconde.
Madrugada de outono,
onde o silêncio enlouquece
e a cidade não dá conta
de como é feio o abandono.
Ruas desertas, esquinas vazias,
portas e janelas fechadas
e alguns poucos carros
passam e não param.
Ainda existe o orvalho,
tipo lágrima discreta.
Ainda existe a espera,
coisa estranha e inquieta.
Lua nublada?
Já foi cheia e exibida
dentro do meu quarto,
já dançou noites de insônia,
bebeu todo o meu absinto,
fez juras de amor eterno
e depois minguou.
Hoje é só nublada:
vez em quanto aparece,
quase sempre se esconde
QUIETUDE DA ALMA
NALDOVELHO
Passarinhos passeiam pela sala
e um gato sonolento espiona.
conversa travada em silêncio,
cumplicidade premeditada com o tempo.
O cheiro de café coado bem forte,
pão francês, queijo branco, angu de corte,
biscoito de nata, goiabada cascão,
manteiga sem ranço, tarde macia de agosto
e uma certa brisa quente no ar.
Que tal encostar, assim, mais um pouco?
Embaraçar de vez nossas pernas?
Suas mãos mal intencionadas provocam...
O meu corpo aquecido responde.
Espreguiçadeira repousa na varanda,
samambaia chorona ao vento.
Quietude precisa da alma
que entardece aconchegada em seu colo.
MULHER ENLUARADA
NALDOVELHO
Procura-se uma mulher sardenta,
mais ou menos um metro e sessenta,
cabelos claros, desgrenhados,
olhos verdes e abusados.
Procura-se uma mulher sedenta,
mais sedutora do que aparenta,
lábios grossos e encharcados,
doce veneno disfarçado.
Procura-se uma mulher derradeira,
com garras afiadas, guerreira,
acostumada a tecer feitiços
e não há como acabar com isto!
Procura-se uma mulher enluarada,
pele branca e orvalhada,
mãos acostumadas à ternura,
capazes de levar um homem a loucura.
Diz que é a musa dos meus sonhos
e dos meus versos mais tristonhos.
Quem souber não se arrisque, juízo!
Seu ataque é rápido e preciso...
Nem queiram saber do que ela é capaz!
COISAS DA VIDA!
NALDOVELHO
Limpo as feridas,
esterilizo a pinça,
retiro os espinhos.
Todo o cuidado é pouco,
feridas mal tratadas
costumam infeccionar.
Um antiinflamatório ia bem!
Agora é só seguir adiante,
cicatrizes permanecerão.
Na mudança de tempo
vão incomodar,
só pra lembrar
que a pele ainda é fina.
No trato com as rosas,
ainda que lindas,
todo o cuidado é pouco...
Coisas da vida!