OS CICLOPES TAMBÉM AMAM
Ciclope embrutecido
Cospe no chão, rota alto, peida a cada passo
Chuta ovelhas pelo caminho
Como o mendigo Salú faz embaixadinhas
com as pombas em pânico
no calçadão da Rua XV de Novembro em Curitiba
mas a flecha cupídea partiu certeira, zás – trás!!!
Operou-se uma transformação
achou uma fresta de luz e vida
um calcanhar- de -Aquiles no coração
Ciclope embrutecido
até ver a ninfa & saltitante bailarina
do lago verde garapa, filho do rio Belém
seu olhar de um olho só , agora mira triste o chão
escreve na terra com a unha de luto
amar-te se faz refrão
quando beleza & leveza
lixam sob uma nuvem de pó
o seu cascudo coração
o ibisco carmim se dissolve
ele ouviu em fim a sonoridade do sangue
ele ouviu em fim
a onírica cantata dos riachos
e percebeu a poesia que há no caldo de luar
brincando no chão da noite
sua alma recende a maciez das pétalas
enquanto afunda na areia a frase:
amar-te se faz refrão
o vasto e eivado tronco do eucalipto
ajoelha-se sob o olhar mavioso da convalescente violeta
como Jão Fera sob o olhar de Berta
tal qual Raskolnikov sob o olhar de Sônia
ou ainda Heathcliff
sob o cândido olhar de Catherine Earnshaw
talvez Quasimodo sob olhar melífluo de Esmeralda
Os cilcopes também amam.
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