OS CICLOPES TAMBÉM AMAM

Ciclope embrutecido

Cospe no chão, rota alto, peida a cada passo

Chuta ovelhas pelo caminho

Como o mendigo Salú faz embaixadinhas

com as pombas em pânico

no calçadão da Rua XV de Novembro em Curitiba

mas a flecha cupídea partiu certeira, zás – trás!!!

Operou-se uma transformação

achou uma fresta de luz e vida

um calcanhar- de -Aquiles no coração

Ciclope embrutecido

até ver a ninfa & saltitante bailarina

do lago verde garapa, filho do rio Belém

seu olhar de um olho só , agora mira triste o chão

escreve na terra com a unha de luto

amar-te se faz refrão

quando beleza & leveza

lixam sob uma nuvem de pó

o seu cascudo coração

o ibisco carmim se dissolve

ele ouviu em fim a sonoridade do sangue

ele ouviu em fim

a onírica cantata dos riachos

e percebeu a poesia que há no caldo de luar

brincando no chão da noite

sua alma recende a maciez das pétalas

enquanto afunda na areia a frase:

amar-te se faz refrão

o vasto e eivado tronco do eucalipto

ajoelha-se sob o olhar mavioso da convalescente violeta

como Jão Fera sob o olhar de Berta

tal qual Raskolnikov sob o olhar de Sônia

ou ainda Heathcliff

sob o cândido olhar de Catherine Earnshaw

talvez Quasimodo sob olhar melífluo de Esmeralda

Os cilcopes também amam.

poesiasegirassois.blogspot.com

Davi Cartes Alves
Enviado por Davi Cartes Alves em 13/06/2009
Código do texto: T1647256
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