SOLIDÃO
( à Ana Luiza, amiga de quem sinto saudades e que desapareceu entre eu e N.York )
Demorava-me em olhar-te de frente
Só porque um dia disseram-me tudo sobre tu:
Irremediável, imutável, definitiva...
Como podia o Poeta viver a falar de ti
Como se fôra apenas poesia?
- Menino, sabes o que é a Solidão?
Por que a cantas tão impunemente,
Por conta de qualquer dos teus amores pueris
Que nada mais eram que pequenas passagens?...
Por que tens sempre esta palavra escura
Posta em gritos que gritas em lugares
Que ninguém o escuta?
O que chamas de Solidão
Eu te digo que é Sozinhez:
Um sentimento dow que quase todo o poeta tem...
Custa-me crer que saibas, menino,
Que solidão é definitiva, irremediável, imutável...
Sozinhez, menino, sozinhez é o que tens...
Acordo-me agora, depois de tanto tempo,
Pensando nas tuas palavras, minha amiga,
E resolvo se te conto ou te escondo o que se fechou sem luz...
Não percebestes que eu nada disse sobre a tua questão...
Que eu calei-me como quem consente em aceitar tua sentença...
E evitei feri-te os olhos com a palavra tão forte?
Tens razão:
Definitiva é a morte,
Eu nada sei de Solidão...
Talvez uma verdade cósmica
Sobre o estar acordado
E se saber como se é...
Mas aqui na Terra talvez, amiga minha,
Viuvez seja a expressão do que dizes
Que eu não sei...
Ah, minha dor,
E se suspeitasses que dos meus amores,
O primeiro esvaiu-se em sangue?
Que a Vida, que eu sempre celebrei,
Deu-me tamanho presente que cortou-me
Da minha garganta o choro e dos meus olhos a água...
Que na escuridão sob a pedra ficaram também
A verdade que se cala:
Solidão? Tu sabes o que eu sei?