A FUGA
Onde, nos descaminhos, há sombras soluçantes,
O poema clareia uma estrada louca:
Versos e palavras, velozes e cantantes,
Beijam no escuro da Fantasia as nossas bocas
E nos tateiam de desejos pulsantes.
O poeta não caminha sem saída
Por esta rua de impossibilidades,
Porque o poema já muito é vida
De esperar que se tornem verdades
Os sonhos de longa noite indormida.
E assim, que os pés sangrem na caminhada,
Vou contigo pelo deserto da solidão,
Só de hoje, na partida, pois, desenterrada,
A fúria do teu desejo, a grande multidão
De ti, me será companheira de jornada.