Poema

Poema

A primeira sensação

foi de espanto, emoção e alegria

logo depois uma dormência

e meus pés começaram a inchar

algumas náuseas surgiram

e com elas alguns enjôos

foi quando senti um enorme desejo

de comer a palavra ternura

fiquei desconfiado, mas ao sentir tonteiras

tive a certeza...

não é que era um poema

a me engravidar pelos pés

é que eu estava descalço

matando a saudade do chão

e do cheiro da terra molhada

e sem perceber, entreguei-me

sendo assim, não tive como escapar

salientes, me vieram as primeiras contrações

sentei na grama e respirei fundo

aguardando que elas fossem embora

até que conformadas, se foram

pois ainda não era a hora

A esta altura o poema apressado

Estava em minha batata da perna

e continuava subindo desesperadamente

foi quando descobri a sua intenção

na verdade essa pressa toda

tinha uma única razão

é que o poema queria

renascer no meu coração

calma poema, deita e descansa

a viagem é longa e cansativa

mas, ainda não é hora não

fica tranqüilo e dorme

já coloquei minh’alma pra despertar de manhãzinha

pode deixar que não vou te acordar com empurrão

e nem mesmo teu nome vou gritar

vou fazer o seguinte:

te beijo com ternura a face e os olhos...

que é para não te assustar

e te abraço com palavras que é pra não te machucar

dorme poema...dorme

ainda não é hora não...