A IMAGEM DA FOME
Caída por terra, estatelada está a criança,
chora em seu pranto, agora tão solitária.
Desamparada, sofrida, em mudez pária,
não existe para ela nenhuma esperança,
já que a morte tenha roubado de si aquela,
que a vida do ventre um dia tenha nascido.
Não consegue seu franzino corpo erguido,
é mais uma das vítima que a terra esfarela.
Em seu duro leito não mais vive só espera
A fome assombra do que definha, desseca.
Sua carne em vida, o sol queima e resseca,
Mostras das misérias desta vida, desta era
Inocente criança, neste chão árido se deita.
Não pensa, nem lamenta, talvez só respire.
Terá, por ventura, quem desta vida suspire?
Sua carniça, só o abutre faminto a espreita.