Dia das Mães na Avenida de Mayo
Acabou aprisionada na boca
a palavra que desceria a guilhotina
O adeus silencioso foi mais forte
que o grito do buscado reconcílio
Empoeiradas por ausências
de beijos e vozes amorosas
teias antigas multiplicam-se
Imobilizam o adeus em tua boca
mas sacrificam a palavra recomeço
Neste restaurante estrangeiro
onde almoço e escrevo, sofro
Maridos oferecem flores às mulheres
Hablan del amor, pasiones y hijos
Fico pasmo de encanto
Neste restaurante estrangeiro
minha saudade brasileira
te recorda
Sofro os filhos que desistimos de ter
Compro um buquê de flores
que oferece um senhor de terno gasto
Antes da Avenida de Mayo salvar-me
esqueço de propósito
o buquê de rosas sobre a mesa
Sepulto juntas minha solidão
e tua lembrança enlouquecedora
Buenos Aires, 14.maio.06