Viajante solitário
Quantos prazeres tens,
viajante solitário...
Se não te percebem a presença
és o único a sentir,
além do perfume das flores,
a música que brota das cores...
Mais do que sentir ou ouvir,
és capaz de ver,
tocar e tragar.
Pobre viajante solitário...
Tanto a guardar
sem jamais compartilhar.
Tanto ao redor,
tanto pior...
Sorver tão requintada bebida
num canto escuro de bar...
Apesar de tanto extrair da vida,
em trens vazios viajar e vigiar.
Um dia desses, viajante solitário,
numa parada do trem,
em alguma vila modesta,
num lugarejo qualquer,
põe os teus pés no chão,
assume o risco de perder a visão,
te mistura aos que pouco vêem,
experimenta o prazer de apenas viver,
amigos fazer, raízes fincar... e ficar.