AURORA

Aurora, um dia na vida põe a eternidade no chinelo.

Anjo-pirata degola a certeza devorando alcachofras de fogo.

Através dos abismos festejados ela teceu teias de ouro

penduradas de frutos e armas alimentando a aventura cósmica,

ficar só no céu contraria os planos originais, somos busca,

o destino é outra história e não usa lendas nem assembleias.

Aurora desliza nas praias selvagens e mitológicas, vestida

no enigma, pelo enigma guarda ampulheta e cálculos secretos.

Aurora dedilha a harpa dos magos rasgando gotas de chuva

que despencam unicórnios e lobisomens-motorizados

sobre as superstições dos pastores sombrios – embasbacados

com joguinhos terápicos.

De onde ela chega, sabem apenas os que presenciaram

o erguimento mesopotâmico de uma terra ainda não-existente.

O anjo é anárquico visto da lógica da miragem.

Sagrada, a flor é completa como o sopro divino embaixo do mar,

e embora centúrias celebrem a queima dos barbarismos

levantando acordes dissonantes e machados místicos,

viver o mito se não revela o passado

fecha os cadeados das passagens secretas.

Resta apenas magia nas garrafas ocultas nas montanhas

trazidas dos céus em guerra, mas nada que assuste

a ninfa liberta do capuz da escuridão numa flor desabrochando

encantos lunares nas lagoas que iluminando a noite te revelam plena