Emaranhado
Minhas mãos retêm o perfume da flor colhida na calada da noite, nos lábios o sabor do sereno pálido esquecido, outrora mesclava em lágrimas solitárias do andante.
Sou viajante do tempo e do espaço, me desfaço em caminhos ainda não desbravados, rastejo nas emoções alheias, sou forasteira das sensações, provoco palpitações, desabrocho em cada alvorada, debruçada na janela da vida, sob os respingos de saudade, emaranhado de anseios, em teias de ilusões, vou escalando minha morada.
Do grito que ouço ao longe, estendo as mãos e não alcanço...
Pálpebra fecha-se lentamente, o cansaço tomou conta, meu espírito vagou entre as montanhas, num intercâmbio entre a natureza e a alma, junção perfeita desse universo sem fim.
Sai de mim, por alguns instantes, criei asas coloridas, pairei entre jardins floridos, o vento dança entre os trigais dourados, perco a visão nessa cena, adormeço fluindo feito plumas e sobre as brumas da saudade me transporto em mil pedaços, cada partícula incrustada nas rochas, esconde mistérios de outrora.
Pés descalços pisam firmes deixando rastros...
Escrito
27.05.2006
Por Águida Hettwer