MARIA PRETA
Maria Preta mais preta que o tição.
Maria correndo saltitante sem sapato,
Junto aos moleques em grande competição.
Maria chorando sempre pagando os patos
Por tudo que acontece no quarteirão
Onde Maria mora com a avó e a tia.
À noite, Maria se banha nas águas do ribeirão
Cuja nudez negra somente a lua espia.
Os brancos dentes realça no rosto escuro,
Suas trancinhas bem amarradas com barbante,
Espertos olhos de um castanho puro
Dança as órbitas num requebrado dançante.
Mas Maria é feliz. Dá bola pra todo mundo
sem importar com o rosnar de Dona Rosa
Dizendo que maria é possuída do cão imundo.
Tapa os ouvidos diante a vizinha prosa.
"Que vá amolar o boi, Dona Rosa e Sô Raimundo!"
O que Maria quer é viver, brincando e enrolando.
Passou, olhou. Se gostou? Lá vai Maria
De ombros nus com o quadril a rebolar
Acompanhando o distinto sem pensar na tia,
Sem pensar na avó com as lágrimas a rolar
Na face murcha dos anos; sem notícia
Da neta Maria Preta, musa desta poesia