MARIA PRETA

Maria Preta mais preta que o tição.

Maria correndo saltitante sem sapato,

Junto aos moleques em grande competição.

Maria chorando sempre pagando os patos

Por tudo que acontece no quarteirão

Onde Maria mora com a avó e a tia.

À noite, Maria se banha nas águas do ribeirão

Cuja nudez negra somente a lua espia.

Os brancos dentes realça no rosto escuro,

Suas trancinhas bem amarradas com barbante,

Espertos olhos de um castanho puro

Dança as órbitas num requebrado dançante.

Mas Maria é feliz. Dá bola pra todo mundo

sem importar com o rosnar de Dona Rosa

Dizendo que maria é possuída do cão imundo.

Tapa os ouvidos diante a vizinha prosa.

"Que vá amolar o boi, Dona Rosa e Sô Raimundo!"

O que Maria quer é viver, brincando e enrolando.

Passou, olhou. Se gostou? Lá vai Maria

De ombros nus com o quadril a rebolar

Acompanhando o distinto sem pensar na tia,

Sem pensar na avó com as lágrimas a rolar

Na face murcha dos anos; sem notícia

Da neta Maria Preta, musa desta poesia

Dionea Fragoso
Enviado por Dionea Fragoso em 07/06/2009
Código do texto: T1637232